alberto lins caldas
não temos o “costume” da liberdade ou da liberdade de expressão. ao primeiro riscar do cheiro de pólvora linchamos o monstro q ousou se “expressar”. não há crime maior. dizer o pensa, o q sente, o q deseja, o q vê, o q imagina, principalmente quando discorda do q acreditamos ou vivemos, só pode ser um crime, e o infeliz q ousou dizer algo contra nossa maneira de ser e de estar, um criminoso. isso não passa de fascismo, mas está inclusive na lei: podemos ser processados por “apologia ao crime”: esse é um crime q ninguém nota. por uma coisa muito simples: uma lei fascista num mundo fascista não pode ser entendida como fascista.
quando o regionalismo, o localismo, os nacionalismos se juntam, se articulam pra manter um fascismo legislativo, judiciário, governamental, local ou nacional, um fascismo dos costumes, entramos num momento perigoso, ou nunca saímos desse momento sempre a ponto de linchar alguém, ou de silenciar por todos os meios legais, amigos, passionais, administrativos, afetuosos, e violentos, traumáticos, tortuosos.
escrever sobre sua cidade, seu bairro, seu estado, seu país, escrever qualquer coisa, deve e pode ser suportado enquanto idéia, opinião, perspectiva, sem q o criminoso seja destroçado, expulso, violentado, massacrado. basta q respondamos as suas palavras, suas opiniões, sem tocar no seu salário, na sua vida, no seu corpo, na sua paz, nas suas relações vitais. mas não conseguimos conter o ódio carniceiro diante da diferença, diante do outro q se expressa, estranhamente, como outro. e todos são democratas! imagine se todos se considerassem do partido nacional socialista: todas a diferença iria, depois dos campos de extermínio, pros campos do esquecimento. e todos muito felizes ficariam bebendo sua cerveja bem gelada, coçando o bucho e conversando sobre “futebol e mulher”, contando piadas sempre preconceituosas e uns rindo com os outros como cordeiros perversos, vendo lá longe a fumaça dos crematórios.
e há sempre de tempos em tempos alguém q diz o q pensa, mesmo q seja infantil ou primitivo, seja inofensivo: quanto mais inofensivo mais ofensivo se torna: quem escreveu sendo inofensivo mostra q é fraco: chama os carniceiros de plantão, as milícias do bom pensar, os guardiões dos bons costumes, os servidores da lei.
não se sabe bem porq, mas de repente alguém diz o q pensa, escreve, canta, grita, delira, poetiza, goza o q pensa. e o mundinho vem a baixo. a democracia vem a baixo. e vemos quão pouco suportamos a diferença q se mantém diferente, o diferente q diz o q pensa. vemos até onde vai nossa democracia criada e mantida nas portas dos governos, nos sensos comuns, nos capachismos, nas vergonhas de fugir das manadas, se mantém na plena e dura burrice em suportar a diferença.
seja cantar uma letra de música idiota de algum estado ou da-nação conforme deseja, seja atacar o horror de uma cidade, de um estado, do país; seja atacar uma matilha de ratazanas q dilapidam uma universidade; seja criar um movimento artístico maior q o universo minúsculo de minhocas histéricas. só podemos cantar o de sempre, só podemos ser igual aos outros, só podemos viver a vida de todos.
a resposta à diferença é sempre estridente, sádica, cheia de frases feitas, imagens feitas, gestos feitos, pré-feitos, onde todos podem beber sem se embriagar, onde a verdade fica a disposição da anta, do burro, do jegue, do animal de plantão (não confundir com o “animal de platão”). e o pobre diabo é escorraçado sem a piedade dos religiosos, q os religiosos gritam q possuem às toneladas, q os democratas gritam q possuem o tempo inteiro, q a “população em geral” se orgulha o tempo inteiro, enquanto alguém não se põe a ser diferente, dizer a diferença. e o medo á diferença é simples e elementar: a diferença faz aparecer a mesmidade, a falsa igualdade, a mentirosa fraternidade, a amarga mentira da amizade, do amor, do carinho, da cumplicidade, do companheirismo: a diferença além de mostrar q o “rei ta nu”, mostra q a “população em geral” e a “intelectualidade local” não passa de uma massa fascista, perigosa, burra, doente e ressentida.
se não fosse o diferente, o estranho, o contra, jamais saberíamos quem é um crápula, um nazista, um covarde, um regionalista estéril, um nacionalista de carteirinha com saudade das ditaduras. pra isso temos q reconhecer a função do diferente: expõe o quanto são pulhas as massas midiáticas, os batráquios metidos a artista, os jabutis travestidos de intelectuais, as ratazanas universitárias, as antas vestidas de professores.
esse diferente pode ser alguns q conhecemos muito bem, alguns de nós, ou o último, o “professor nazareno”. tanto faz a quantidade da diferença, a questão está na quantidade da igualdade. na força desproporcional entre o diferente e as matilhas, os cardumes, as manadas nazi-fascistas sobre o in-feliz da vez. mas o infeliz da vez é sempre mais alguém, sempre outro q escapa ao campo de força da rocha irremovível da mediocridade.
aí, mandou eh!!!
ResponderExcluirquando a exceção é a regra, a ditadura é escamoteada, toda vida é nua, é matável. todo homem é homo sacer.
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